quinta-feira, 2 de julho de 2009

As injustiças da Justiça

"As articulações políticas envolvendo o procurador Pedro Taques e o juiz federal Julier Sebastião são mais do que suficientes para provar que a prisão de Arcanjo teve motivação político-eleitoral"

ALEXANDRE APRÁ


As articulações políticas envolvendo o procurador da República Pedro Taques e o juiz federal Julier Sebastião da Silva são mais do que suficientes para provar que a Operação Arca de Noé, que resultou na prisão de João Arcanjo Ribeiro, foi uma jogada política com fins eleitorais futuros.

Taques e Julier, em todas as entrevistas a sites e jornais, sempre posam de "salvadores da pátria". Os justiceiros que mandaram para a cadeia o temível bicheiro Arcanjo. Claro, sempre instigados pela mídia e não por eles próprios, a moda antiga do "quem está dizendo isso são vocês e não eu".

Do ponto de vista profissional, realmente a recompensa é notável. Dentro do Ministério Público Federal (MPF) e da Justiça Federal o reconhecimento deve ser tido como elementar. No entanto, eleitoralmente, as coisas podem não ser vistas da mesma forma.

Sim! Querendo ou não, muitas pessoas não vêem com bons olhos a prisão de Arcanjo. Na classe média (e alta também), muitos questionam que depois da saída de Arcanjo da rotina da Capital, o dinheiro "parou de circular em Cuiabá". É muito comum ouvirmos essa repetição. Se era lícito ou não, legal ou não, não sei. Esse não é o mérito dessa questão.

Na classe mais baixa, leia-se D e E, a coisa não é diferente. Arcanjo era tido como o Al Capone do cerrado. Ou um "Juvenal Antena" do Pantanal. Sobre o personagem da novela global, o apreço dos personagens por pessoas mais pobres é evidente. Aposto que qualquer morador de bairros periféricos da Capital conhecia um parente, amigo ou pelo menos conhecido que trabalhava nas banquinhas de jogo do bicho da "Colibri Loterias". São essas mesmas pessoas que também já jogaram, ganharam ou pelo menos conhecem pessoas que já foram contempladas com os prêmios da tal contravenção penal. É inegável!

Claro que tudo isso não justifica o cometimento de crimes, contravenções, seja o que for. Mas, além do próprio alimento do ego dos "pais" da Arca de Noé, outro grave erro fez com que essa operação não fosse tão perfeita. Nem MPF, nem Justiça Eleitoral, nem ninguém se preocupou com as consequências sociais da queda de Arcanjo. Ninguém se preocupou para onde foram os MILHARES de cambistas do jogo do bicho, para onde foram os profissionais da Real Factoring, da VIP Factoring, da Rádio Club FM, da Rádio Cuiabana FM, do Hotel Colibri de Tangará da Serra, do Hotel Colibri de Colíder, das Fazendas Colibri e São João, do Buffet 21 (e cassino, que seja) e de tantas outros funcionários que dali tiravam o seu sustento.

Falo dos funcionários mesmo! Recepcionistas, copeiras, faxineiras, office boys e tantas outros membros do "baixo clero". Pessoas que trabalhavam ali há anos e por conta da verocidade da Justiça em fechar as empresas de Arcanjo até hoje lutam na Justiça para ter seus direitos trabalhistas pagos.

Bom fosse se a Justiça e seus agentes pensassem, além do seu objetio nato, institucional, nas consequências sociais de suas ações.

4 comentários:

Anônimo disse...

Esses dois acham que todos somos ignorantes!!! Já estava escrito nas estrelas a ambição politica da "dupla" dinâmica... Repare que o Poder Judiciário Federal e o Ministério Público Federal sempre são coadjuvantes nessa operação, o que realmente é promovido e enaltecido (misteriosamente) são os nomes dos paladinos da moralidade!!! Parabens pela matéria de coragem.

Anônimo disse...

Caro Colega,
tenho que falar (escreverrsrsr); não posso me calar, mesmo porque tenho conhecimento de causa: já trabalhei numa das empresas enumeradas por vc, quando eu tinha uns 13 ou 14 anos.
Começarei bem ao estilo do seu artigo (muito bem escrito):::::
Assim, até concordo que o artigo seja de muita coragem e de muita relevância aos MILHARES, mas - bem no linguajar popular - o que tem a ver 'aquilo' com as calças?
Caro amigo, bandido é bandido!! Também concordo que eles possam estar por toda parte. Mas esse em questão se deu mal. Coitado! Mas Sinto mais pena ainda daqueles que ficaram sem os seus direitos trabalhistas, aliás, sinto muito mais pena daqueles, cujas famílias foram dilaceradas pelos crimes pelos quais responde juvenal. E não falo da FAMÍLIA RICA, falo daquelas pobres "que estão espalhadas pelos bairros e periferia da capital".
A polítia - e o poder que ela concede - realmente atrai gente de todos os setores. Um exemplo é nossa valorosa imprensa, que anda produzindo políticos aos montes... e dar subsídios à população para que possa escolher os bons políticos também é papel da imprensa. É confuso? É irritante! Pois, às vezes, a imprensa pode até nos ludibriar.
Um abraço, Aprá!

Anônimo disse...

Nossa. Qto absurdo reunido num único texto. Quer dizer que um bandido simpático e caridoso deve ter a complacência da lei somente por ele ser...simpático e caridoso?
O termo que define essa linha de pensamento é o pobrismo. Se é pobre ou ajuda os pobres tá perdoado de tudo. As leis devem ser flexiveis de acordo com a condição social ou simpatia da personagem?
Se os agentes da lei (procurador e juiz) o prenderam com intenção calculada de obter projeção política, é uma outra questão. Vc tem alguma prova de que houve perseguição nos inquéritos movidos contra o bicheiro? Se tem, sempre é hora de apresentar. Mesmo que beneficie um bandido, mas o papel do jornalista é cobrar dos agentes públicos que ajam de acordo com a lei.
Se não houve perseguição e nem exageros, e ainda assim eles obtiveram projeção junto à opinião pública, qual o problema? Nos EUA é muito comum promotores e juízes disputarem eleições após feitos de grande repercussão na sociedade.
Eles não podem (e isso tem de ser rigorosamente vigiado) é utilizar do cargo vitalício para se promover, tipo viagens ao interior, perseguição judicial a possíveis desafetos, proteção judicial a possíveis aliados.
Qto à sua avaliação sobre o comportamento da sociedade em relação ao caso do bicheiro, ela demonstra que vc é um bom repórter, com capacidade de apurar informação. Nesse caso, quem "bomba" a imagem do procurador e do juiz é a própria imprensa, não a sociedade. Fosse o contrário o nome de ambos apareceria acima de traço nas tais sondagens pré-eleitorais. Ou não?

Renata disse...

Parabéns pelo artigo, nobre colega de profissão, Pela clareza e pela coragem.
É uma pena que esses que vc citou até hoje esperam na "justiça" os direitos conquistados com o trabalho desempenhado nessas e tantas outras empresas.
Mato Grosso tem que parar de ser terras conhecidas por existirem ainda seus "corónéis, capangas e etc!" Para isso a Operação contribuiu, pena que só uma parte da quadrilha foi presa... ainda tem mta gente dela andando por aí.... e nem so andando... mas Mandando....