domingo, 26 de julho de 2009

Pelo menos alguém soube interpretar meu artigo sobre Arcanjo

Quando escrevi o artigo "As injustiças da Justiça", onde critiquei o uso político eleitoral da Operação Arca de Nóe, que prendeu João Arcanjo Ribeiro, abordei alguns "subassuntos" dentro do assunto Arcanjo. Fui apedrejado, massacrado por muitos leitores deste blog e de outros sites que replicaram o artigo. Mesmo assim, não mudo sequer uma palavra do que escrevi. Ratifico todas as idéias apresentadas.

Quando questiona os encaminhamentos de tal operação não defendi sequer uma vez o bicheiro (ou empresário ou pistoleiro ou maquiavélico ou criminoso ou contraventor, como quiserem) Arcanjo. Apenas escrevi algumas visíveis consequências de sua "saída de circulação". Em nenhum momento disse que Arncajo deveria ser solto, que estava sendo injustiçado ou coisas do tipo. Apenas coloquei questionamentos que, ao meu ver, ninguém está disposto a por.

Apesar da maioria dos comentários nos sites e neste blog e até outros artigos de jornalistas insinunando que estou em defesa de Arcanjo, fico feliz de saber que pelo menos alguém entendeu a minha proposta. O advogado Eduardo Mahon publicou nesta quinta-feira, em sua coluna "Ao pé da Lei" no jornal A Gazeta (23/07/2009), um artigo onde faz a correta interpretação do artigo que escrevi. Faço questão de não comentar o texto de Mahon, mas replico aqui para que cada um faça sua interpratação acerca dos fatos.


ALEXANDRE APRÁ
(Coluna ao Pé da Letra - Eduardo Mahon - Jornal A Gazeta 23/07/2009) O jornalista é adepto da polêmica. Dos nossos. Divulgou um artigo que foi uma derrapada entre razão e sentimento. O resumo da ópera está nesse trecho: “Sim! Querendo ou não, muitas pessoas não vêem com bons olhos a prisão de Arcanjo. Na classe média (e alta também), muitos questionam que depois da saída de Arcanjo da rotina da Capital, o dinheiro ‘parou de circular em Cuiabá’. É muito comum ouvirmos essa repetição. Se era lícito ou não, legal ou não, não sei. Esse não é o mérito dessa questão. Na classe mais baixa, leia-se D e E, a coisa não é diferente. Arcanjo era tido como o Al Capone do Cerrado. Ou um ‘Juvenal Antena’ do Pantanal. Sobre o personagem da novela global, o apreço dos personagens por pessoas mais pobres é evidente. Aposto que qualquer morador de bairros periféricos da Capital conhecia um parente, amigo ou pelo menos conhecido que trabalhava nas banquinhas de jogo do bicho da ‘Colibri Loterias’. São essas mesmas pessoas que também já jogaram, ganharam ou pelo menos conhecem pessoas que já foram contempladas com os prêmios da tal contravenção penal. É inegável!”

Errou o jornalista? Jamais. Na verdade, não falou de Arcanjo, falou sobre o povo brasileiro. Raimundo Faoro já ensinava que fomos formados no berço do patrimonialismo, funcionalismo, burocracia e mandonismo. Ora, como negar que o “Senhorzinho Malta” não causa fascínio? Assim como todos os aloprados que são eleitos e reeleitos. Não são apenas criminosos ensanguentados que provocam um misto de atração e repúdio. Na classe política, essa queda pro coronelismo ainda seduz.

Não me pareceu Aprá ter defendido quem quer que seja. Apenas estocando a hipocrisia, num momento onde soltou os freios da cautela. Quanta gente graúda comemorava aniversários na Instância 21 e hoje simplesmente desapareceu? Quanta gente frequentava o cassino, com direito a crédito especial e hoje nem sequer ouviu falar em João Arcanjo Ribeiro? Quanta gente era “parceira”, “sócia” ou “amiga do peito” do hoje presidiário? E toda essa gente que vendia, negociava, fornecia, publicava... todo mundo sumiu? Vamos parar! Para muita gente, Arcanjo deixou saudade.

Aprá não entrou no mérito, até porque não é juiz. O jornalista apenas disse o que pouca gente diz para não se queimar. No momento, ‘pega mal’ fazer qualquer comentário sobre Arcanjo, a não ser os de praxe. Isso é uma enorme hipocrisia. E o problema é que tem gente que não sabe ler e pensa que tais evidências são defesas às ações julgadas em primeira instância. Para mim, o que ‘pega mal’ é fazer de qualquer sentença judicial um palanque, um roteiro de filme,
um enredo de livro, um bônus pessoal.

Quanta gente fazia a sua fé no bingo/bicho e continua fazendo? É que a Caixa Econômica Federal quer a exclusividade, daí é contravenção da atividade. Simples, não? Ou melhor: o sistema penal precisa do crime e da contravenção para viver, do contrário, faltaria verba circulante na complementação salarial. Mas o país está mudando. A nação hoje se permite ter um fiscal fiscalizando o fiscal que fiscaliza o fiscal. E um fiscalizando o outro, quem sabe não encontram um fiscal que deixava de fiscalizar muita gente fiscalizável?

2 comentários:

Sandra Hokenheim disse...

Verdadeiramente este artigo vale a pena ser lido. Não apenas por sair em defesa do jornalista, mas falar o que muita gente tem medo de falar. Num mundo onde tomar posição é um risco, felicito aqui o nobre advogado e o colega jornalista, sempre em defesa da democracia!

Rafael Damian disse...

Bom, cada qual com sua interpretação. O advogado comentou apenas o óbvio, aquilo que de fato é repetido pela população e foi utilizado pelo jonalista no seu artigo, o que se questionou, todavia, naquele texto, foi a crítica formatada em relação ao trabalho do magistrado e do procurador. Esse sim é o cerne de todas as vociferações contra o texto jornalístico do Aprá.