
O episódio já despertou polêmica nos bastidores do meio cultural mato-grossense, que inicia uma campanha para sensibilizar Olímpio a efetuar o pagamento.
O valor é referente a um projeto de uma escultura da Praça 8 de abril, inaugurada pelo prefeito Wilson Santos (PSDB) às vésperas do primeiro turno da eleição municipal. Segundo dados oficiais, a obra custou aos cofres da Prefeitura o total de R$ 770 mil. Wlademir Dias Pino atualmente se submete a um delicado tratamento de saúde e reclama que, até agora, não viu a "cor do dinheiro", mesmo com as intermináveis promessas de Mário Olímpio e sua equipe de assessores.
Ele conta que no ano passado foi procurado pelo secretário de Cultura e pela primeira-dama e presidente do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano (IPDU), Adriana Bussiki, que encomendaram com urgência um projeto de escultura que seria executado na Praça 8 de abril. "Não assinei contrato algum porque, ao concluir o projeto, que foi solicitado com urgência, o levaram embora imediatamente e desde então não mandaram sequer uma fotografia", relembrou.
Após a promessa inicial de pagar R$ 50 mil, o secretário de Cultura tenta reduzir o valor. Em conversas posteriores ao primeiro acordo, foi sugerida a quantia de R$ 40 mil e, logo depois, apenas a metade. "Propuseram me pagar R$ 20 mil pelo projeto, mas para receber este valor pedem que eu faça três exposições artísticas em Cuiabá", revelou.
Sem receber a mais de um ano pelo projeto que deu origem a uma escultura de árvore estilizada metálica na Praça 8 de abril, Wlademir Dias Pino não acredita em má-fé ou calote, mesmo que a falta do dinheiro prejudique sua rotina marcada pelo combate a problemas cardíacos e pressão alta. As despesas são pagas com dinheiro vindo de aposentadorias oriundas de serviços prestados em órgãos públicos. "Acredito que não recebi por alguma dificuldade administrativa. Em momento algum me disseram que não iria pagar, o tempo passou, mas não recebi ainda", lamentou.
O último contato da secretaria de Cultura com o artista plástico foi feito a mais de três meses. Solicitaram o número de sua conta bancária para efetuar o pagamento, mas até o momento o depósito do dinheiro segue sendo apenas uma promessa.
Outro lado - Prestes a deixar o cargo, o secretário de Cultura Mário Olimpio negou qualquer ‘boicote' financeiro ao artista plástico Wlademir Dias Pino. Ele confirmou que esteve na sua residência no Rio de Janeiro ao lado da primeira dama Adriana Bussiki para solicitar a elaboração do projeto.Entretanto, nega qualquer acordo para pagamento.
"Na conversa que durou uma hora e meia, ele [Wlademir] disse que não iria cobrar nada porque se tratava de uma doação a cidade. Sou do meio cultural e entendo que o artista deve ser bem remunerado, insisti durante três vezes naquela conversa para estabelecer um preço, mas só houve recusas", garantiu.
Ele afirma ainda que não há documentos que comprovem a dívida ou doação e alega que o pedido para efetuar o pagamento em dinheiro pelo projeto começou a ser feito um mês e meio após a inauguração da obra. Olímpio afirmou que o pedido levou a voltar ao Rio de Janeiro para dialogar com o artista plástico, mas não foi atendido. "Voltei de mãos abanando", relatou.
Porém, garante que está encontrando alternativas para efetuar o pagamento. "Pensamos em fazer uma exposição de artes do Wlademir para arrecadar o dinheiro, estamos trabalhando e posso garantir que no prazo de 10 a 15 dias teremos uma solução", prometeu. Ele nega também que tenha sugerido a redução no valor do pagamento. "Cabeça de artista é complicada mesmo, mas não houve nada disso", contemporizou.
História - Wlademir Dias Pino é um dos nomes mais respeitados da poesia visual brasileira, participou da gestação da poesia concreta, nos meados dos anos 50, junto com Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo e Ferreira Gullar.
Criador dos livros-poema Ave (1954) e Sólida (1956) e propulsor do movimento Poema/Processo, participou da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo, em 1956, e no Rio de Janeiro, em 1957. Em 1958, realizou no carnaval a primeira decoração geométrica das ruas cariocas.
É o responsável pela criação do logotipo da UFMT e durante 10 anos trabalhou na organização de carnavais promovidos pela Prefeitura de Cuiabá. Em 1968, participou da Primeira Bienal de Arte Moderna de Nuremberg (Alemanha).
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