quarta-feira, 9 de junho de 2010

Se for o Rui, pode esquecer, mas Ornellas é fácil, diz lobista do TJ

(Romilson Dourado - RD News) Ivone Reis Siqueira, a lobista que atuava no Tribunal de Justiça e detinha bom relacionamento com alguns magistrados, é citada em dezenas de telefonemas, monitorados pela Polícia Federal, cujo conteúdo é altamente comprometedor. Expõe um esquema criminoso envolvendo autoridades na venda de decisão judicial. Ela reside no bairro Senhor dos Passos, em Cuiabá, e ficou presa por quatro dias. Foi uma das detidas na operação Asafe, realizada há menos de 15 dias. Uma das pessoas com quem Ivone mais conversa é com a advogada Célia Cury, esposa do desembargador aposentado José Tadeu Cury e que também foi parar na cadeia por alguns dias.

Em outubro do ano passado, Ivone se movimenta para negociar uma decisão judicial que viesse libertar um indivíduo que fora preso em flagrante, quando usava drogas em Poconé. Ela trava diálogo com Célia e também com Wagner de Abreu, com quem esteve conversando pessoalmente. Tudo foi monitorado por agentes federais. A lobista expõe todo o modus operandi do grupo.


Na conversa interceptada e que faz parte de um processo com mais de 5 mil páginas que tramita no Superior Tribunal de Justiça, Ivone Reis cita, inclusive, que foi fechado um negócio de R$ 1 milhão e observa que, "com menos de R$ 100 mil ou R$ 200 mil não se faz nada no Tribunal". Em outro trecho do mesmo diálogo, Ivone afirma que a melhor forma de tirar alguém da prisão é durante o plantão, que seria no sábado, domingo ou feriado para, de imediato, o réu fugir para a Bolívia. Ela demonstra quais desembargadores estariam sob influência de Célia Cury.

Em 21 de outubro, Ivone conversa com Wagner. Este explica que um homem foi preso pela segunda vez com drogas em Poconé há cerca de uma semana e pergunta quanto custaria para conseguir libertá-lo, via Tribunal de Justiça. Num determinado momento da resposta, Ivone pondera: "(...) Tem que ver quem é. Se for o Rui Ramos (desembargador e hoje presidente em exercício do TRE), pode esquecer. Shelma (Lombardi) já (se) aposentou, é... Paulo Cunha nem precisa. Paulo Cunha agora é vice-presidente. Ele não julga mais. Tem que ver com quem que tá dentro do Tribunal de Justiça. Já o pai de Maisa, Manoel Ornellas, é fácil. Lá tem uma turma que é fácil, outras turmas que não tira (sic) não. Ele pode pagar milhões. Se pagar certinho 20 milhão (sic) na conta de... Nogueira. Tem que ser o nome dele".


Ainda no diálogo, Wagner adianta que o presidiário topa pagar até US$ 3 mil e avisa que pode buscar a grana na Bolívia. Ivone retruca: "(...) Nós fechamos um negócio agora de um milhão de reais. Vou mandar um de nove mil? Com esse valor não faz nada, nada, nada. Por menos de 100, 200 mil ninguém faz no Tribunal. Não adianta". Wagner melhora a oferta: "Nós vamos... cinco milhões de dólares". Ivone, então, se contenta: "Aí seria diferente!". A negociata prossegue por um longo diálogo. Confira abaixo o teor da conversa entre Ivone e Wagner.

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