terça-feira, 20 de abril de 2010

OPINIÃO: Pedro Taques, o novo Hulk

POR ENOCK CAVALCANTI

Meus amigos, meus inimigos: o ex-procurador Pedro Taques, está mergulhando no cotidiano da política e, em torno dele, se levantam grandes expectativas. É provável que o Projeto da Ficha Limpa não seja validado pelo Congresso Nacional (que é dominado pelos Fichas Sujas) para esta eleição – então, o que está pintando é que teremos, neste eleição, o mesmo padrão de sujeira dos candidatos. E a democracia nos cobra um aperfeiçoamento contínuo.

Vai daí que, em Mato Grosso, quando nos bater no peito aquele desânimo, aquele ceticismo diante dos vícios eleitorais que marcam a escolha de nossos políticos, poderemos dizer, com um sorriso no canto dos lábios: pelo menos, temos aí o Pedro Taques. Quer dizer, agrada ao eleitor minimamente consciente a certeza de que poderá colocar na urna um voto limpíssimo: Pedro Taques, político cabacinho.

Mesmo aquele que se dispõe a votar nos maiores cafajestes, poderá “lavar” seus votos, declarando: votei naquele marginal para federal, naquele pilantra para estadual, porque faço parte de uns esquemas aí mas, para senador, meu voto foi pro homem que prendeu o comendador Arcanjo e desbaratou o crime organizado em Mato Grosso.

Já tive oportunidade de escrever que o primeiro ato de grandeza desta campanha de 2010 coube ao nosso estreante: Pedro Taques declarou que pode até acabar não sendo candidato, se o seu candidato a governador, o Mauro Mendes, insistir em colocar no mesmo palanque, o deputado José Riva, do Partido Progressista. Manda a velha regra de que, quando se trata de eleição, “voto e apoio não se rejeita”.

Pois o Pedro Taques teve a coragem de dizer que de Riva não quer apoio e muito menos companhia. Isso introduz uma nova lógica na eleição. Tem muita gente que, nos bastidores, diz que Riva é um ficha suja mas que, por causa da enorme trupe que cerca o presidente da Assembléia, dos votos que Riva consegue granjear, acaba lhe fazendo elogios em manifestações públicas. Foi o caso do ex-governador Maggi, do atual governador Silval Barbosa e mesmo da senadora Serys, na solenidade de entrega do maquinários aos prefeitos, recentemente.

Pedro Taques pôs em xeque esta lógica. Mas, alguns dias depois, me parece que, tratando do mesmo assunto, o ex-procurador soltou uma frase contraditória. Eis o que Pedro Taques disse, lá em Ribeirão Cascalheira, em ato que teve o patrocínio da Assembléia e, indiretamente, de Riva: “Nada tenho contra o pecador mas, sim, contra o pecado”.

Quando a pessoa começa a soltar estas frases feitas é certo que procura driblar a pergunta. O papel educativo que Pedro Taques tem a cumprir nesta campanha não permite que faça pronunciamentos dúbios. Quando era ainda procurador e estava se transferindo para São Paulo, Taques foi alvo de homenagem dos comerciantes de Cuiabá. Lembro de ter comparecido à cerimônia e de ter visto o Pedro, ao lado do empresário Roberto Lebrinha, pronunciando uma frase lapidar: “Saio triste de Mato Grosso porque não consegui extirpar o braço político do crime organizado.”

Pronto, sem transição, abandono o personagem Pedro Taques e vou falar de Gilson de Barros, já falecido. Recordo-me que o Gilson de Barros, que foi um deputado feroz eleito por Mato Grosso para a Câmara Federal, o Hulk da política, quando subia num palanque, no início da carreira, costumava dizer cobras e lagartos de Júlio Campos e dos políticos conservadores. Sim, o pai do Saíto punha de lado as gentilezas e chamava Julinho de ladrão, corrupto, safado – e até mesmo de veado, para delírio das platéias desdentadas das periferias.

Depois que Dante o apunhalou pelas costas, Gilson passou a xingar também o antigo parceiro.O que se espera de Pedro Taques é que seja o nosso Hulk nesta eleição, sem a necessidade de recorrer ao palavrão. Sim, se o braço político do crime organizado tem um nome, esse nome precisa ser dito nas esquinas, nos comícios, nos debates, para que o povo perceba que o tempo do medo passou e precisamos, de uma vez por todas, nos livrar do pecado e punir os pecadores. Ou será que Pedro Taques não tem nada contra pecadores impunes?

* ENOCK CAVALCANTI, jornalista, é titular do blogue www.paginadoe.com.br

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